29 de abril de 2012

enquanto houver ventos e mares, a gente vai continuar

e amanhã será um novo dia e, no entanto, tão semelhante ao de hoje, demasiadamente semelhante. a incerteza. a incerteza, essa puta que nunca me abandona e que todos os dias me faz desejar nem sequer acordar (para o dito novo dia). mas porquê? porque é que estás sempre aqui, presente, naquele canto da minha mente que está sempre a processar, tudo e nada, sem nunca parar. o que é certo é que a natureza desta incerteza é, também por si, incerta. mas bem, na generalidade, já me habituei a lidar com ela. de uma forma ou de outra, chega a uma altura em que há que decidir. apesar de ser sempre difícil, a pouco e pouco, é exequível. o problema está no tempo, esse que nunca pára. penso e repenso, tomo uma decisão. chega a hora e os argumentos, os prós e os contras são todos demasiado falíveis para continuar em frente, mas, mais uma vez, o tempo não pára. lá voltam as velhas crises, momento de colapso. respirar fica ainda mais difícil, os olhos só conseguem fitar o chão, caminhar incomoda por não haver um destino final (exceptuando a morte, mas essa chega mesmo que se pare).
entretanto, cada discussão puxa-me mais e mais para baixo; e os propósitos que me imponho para que tente encarar o novo dia como um dia diferente tornam-se totalmente insignificantes. a apatia e o nada fazem pressão para entrar e caio num sono profundo. do meio desse nada chegam até mim flashes e algumas vozes que suavemente me tentam trazer de volta ao mundo real, mas isso não chega. tem de ser à bruta: preciso que me berrem aos ouvidos, de levar chapadas na cara até sentir calor. ainda quase às escuras,  olho à minha volta e distingo algumas sombras pintadas no chão, mas ao olhar para cima os corpos das pessoas que provocavam tal fenómeno já desapareceram. fecho os olhos com força e volto a abrir. vá, calma. pensa. pensa que amanhã pode não ser muito diferente, mas o milésimo de diferença a que cada dia se soma outro milésimo será mais significativo dentro de dias, semanas. aliás, sabes bem que dentro de meses haverá uma quebra total, nessa altura, vais desesperar pela semelhança. renasço. mergulho no gelo, num banho de água fria. 
o corpo está ainda dormente e consigo aguentar a dor. as reminiscências da vontade estão a fluir. preciso de mudar alguma coisa, preciso de uma nova perspectiva ao acordar. chego ao quarto, rodo a cama 180º e encosto à parede oposta. é um começo. deito-me e estranho a sensação, mas a vontade de acordar ressurge camuflada pela ansiedade. adormeço. passadas algumas horas, acordo. observo a parede em frente. é um novo dia, vamos a ele. de repente, a porta, que agora se encontra do meu lado direito, abre-se lentamente e ouço: "o que é que fizeste? não gosto nada de ver a cama aqui, quero que a ponhas onde estava". e no meu cérebro desencadeia-se a luta pensar/falar. limito-me a pensar. é só uma cama, mas não deixa de ser uma boa metáfora. afinal de contas, a resistência está lá sempre à mudança e à diferença. o legado de impedir as minhas verdadeiras perspectivas e crenças, o meu verdadeiro eu transparecer mantém-se, continuam a querer roubar e matar pedaços do meu ser. por fim, levanto-me, em silêncio, e sigo com a minha rotina. estou já a olhar para ti, enquanto tomo o meu café, quando os pensamentos voltam ao plano principal. o que é que me impede de, neste preciso momento, chegar ao pé de ti e dizer-te que és a força motriz dos meus dias de semana? claro que já sei a resposta. é o medo. o medo e a dor de ter de errar. essa sensação, também percursora nos meus dias, de controlo, de não exceder o limite pelas eventuais consequências. porque caralho me deverei negar a ser feliz? não encontro resposta. fico sem forças.
é já em casa que me deito a olhar para o tecto. mas quem é que estou a tentar convencer? porque é que continuo a fazer planos? não, nada vai ser como eu quero. só conseguimos ter partes. não vale a pena pensar que daqui a uns meses uma eventual quebra me irá libertar porque, no fundo, não há como fugir ao campo de concentração que é a nossa vida. nascemos e morreremos, na merda e como merda. 

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