nas ruas negras desta cidade eu vagueio, sozinha. os meus poros dilatam com o pesar do sol e a pressão intracraniana está bem para lá dos limites. há uma vontade constante de te encontrar a cada esquina, sinto a adrenalina a fluir em cada mililitro do meu sangue. percorro as travessas num trajecto rotineiro até à esplanada no costume. corre uma brisa de ar fresco e, no entanto, eu mal consigo respirar. pego no romance que estou a ler, mas depressa me perco nas entre-linhas. fecho os olhos, mergulho na escuridão. à minha volta, o tempo está parado. em mim, consigo sentir o movimento da mais ínfima molécula que constitui o meu organismo, mesmo o subtil flipflop das membranas que individualizam cada uma das minhas células. reabro os olhos, as cores são demasiado vivas e o barulho incomoda. ao mesmo tempo, pressinto uma dor aguda que me sobe pela perna, movimento reflexo: mudo de posição e respiro fundo. olho em meu redor e concentro-me nas memórias. (...)
entretanto, está a ficar tarde, faço por me levantar, mas o corpo não me obedece. esforço-me e alterno, um pé atrás do outro, como se nunca o tivesse feito antes. tenho a sensação invulgar de estar a ser observada e, ao percorrer com os olhos o que há ao meu redor, estranhamente percepciono que nada reconheço: a paisagem mudou, já não existe o fascínio de outrora e as pessoas, as pessoas não parecem ter metade da densidade e os seus rostos, sem expressão, dotados de uma artificialidade quase anti-natural. cria-se uma impressão de nevoeiro, uma espécie de poeira cósmica, apresso-me para sair dali, mas na verdade nem sei para onde ir. decido ir para casa. encontro a porta aberta, tranco-a, mas nem sequer me questiono. subo as escadas, dispo-me e deito-me. dou voltas à cabeça, tento controlar os pensamentos, mas depressa sou assaltada por um sono que arranca a minha consciência e perco as forças. sou sugada para as profundezas de um sono sem fim.
de manhã, quando acordo, dou conta de que a porta permanecera aberta durante toda a noite. foi então que caí em mim: a porta está inclinada, por muito que a tente fechar, a gravidade encarrega-se de a voltar a abrir. da minha parte, resta dar por mim a sair por ela, vezes e vezes sem conta, atirando-me, invariavelmente, para o, já intimo, buraco negro.
oh para quê? tenho o flickr para por isto. bué dos hug nestas semanas :3
ResponderEliminarpodes crer, estou aí até dia 16 ou 17
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