2 de janeiro de 2014

diz-me o que pensas quando chegas a casa, depois de mais uma noite queimada. quando tiras o lápis negro dos olhos ou o batom encarnado dos lábios, essa máscara que esconde o teu verdadeiro eu. desfazes a trança do cabelo e tiras todos os adereços que teoricamente embelezam o teu pescoço, os teu pulsos finos ou os dedos delicados. de seguida, despes-te e, assim, retiras de ti todas as marcas de civilização. como te sentes agora? és alguma coisa diferente de todos os outros? talvez. sentes-te suficiente sem a necessidade de te definires perante o mundo? ou o vazio também te começa a preencher? todo o teu eu está agora concentrado no teu olhar, na tua forma de tocar, nas tuas palavras. provavelmente não te sentes bem. sentes frio, porque mais cedo ou mais tarde as tuas posses materiais ou aquilo que mostras aos outros começaram a ser a tua única fonte de calor. e agora, jazes nua sobre a colcha e agarras-te a ela na tentativa de voltares a ser alguém. mas, agora, digo-te eu, não é esse o caminho. e, quem sabe, se calhar já é tarde demais.

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