30 de janeiro de 2014

hoje acordei ao teu lado e ao olhar para ti pensei: "diz-me então, o que é amar-te, se não esta vontade fervorosa de te querer só para mim e desejar que me queiras igualmente. a verdade é que ao pensar em ti, tudo o resto perde o interesse, tudo desvanece. amar é a maximização da arte de manipulação. poderei eu condenar-te nas alturas em que fazes de tudo para me agradar sem seres inteiramente fiel a ti próprio? poderás tu julgar-me quando eu te digo que está tudo bem ou que não faz mal passar uns dias sem te ver, quando não é isso que sinto realmente? como é que se qualifica esta vontade de querer complementar-te, colocar-te em primeiro plano? às vezes deixo de ser eu para que tu gostes mais de mim, tal como tu deixas o teu eu de lado para teres a certeza de que eu não vou duvidar que és o meu prolongamento perfeito. o que é tudo isto, se não manipulação? a questão está precisamente em definir quais os limites, mas esses raramente existem em concreto. tudo isto tem um objectivo primário: manter a nossa ligação, criar cada vez mais fios, mais nós, mas inevitavelmente existe um objectivo secundário: és meu, eu preciso de ti, não te vou deixar fugir." finalmente acordas e quebras a minha linha de pensamentos.
hoje acordei na cama errada, acordei sozinha quando eu bem sei que é ao teu lado que eu pertenço. hoje acordei sem ter vontade de amar, mas amar é uma palavra demasiado forte. na verdade, se hoje me perguntassem o que é o amor, como na maioria dos dias, eu diria que não existe. nós não "amamos" nem sequer "gostamos" das pessoas que nos rodeiam.
vejamos: somos o ser superior e central na nossa vida, adaptamo-la à nossa realidade e nessa realidade definimos o bem e o mal, segundo as nossas crenças e valores. criamos uma escala de verdade, de fiabilidade. todas as escalas têm um mínimo e um máximo. qualquer escala tem de ter um mínimo e um máximo. amplificando, mais tarde ou mais cedo, seremos os cabrões numa das escalas daqueles que nos rodeiam. como poderemos então considerarmo-nos os mestres, possuidores de grande sabedoria sobre esta tarefa que é viver, quando outro ser próximo de nós acredita fielmente que somos nós os cabrões? é um terror viver em sociedade. a condição de sermos humanos, mete-me nojo. não somos capazes de construir uma verdade universal. as experiências vividas por um só indivíduo apenas têm uma realidade, que não somos obrigados a acreditar, visto que não presenciámos o acontecimento. por outro lado, a partir do momento em que uma experiência é partilhada, existem já duas versões para a mesma vivência. isto porque, tudo o que nos modulou até hoje, faz-nos sentir de maneiras subtilmente diferentes. tudo isto torna difícil o entendimento entre os homens, é como se usássemos dicionários ou filtros diferentes. é por isto que não sabemos gostar dos outros. todas as relações estão condenadas a acabar. o amor nunca chega. esta diferença na calibração do sentir irá, mais cedo ou mais tarde, virar-nos contra o outro.
que se foda, vou viver para dentro de mim. esta ideia assalta-me demasiadas vezes. a vontade de me abastecer de tudo o que o meu corpo e mente precisam e, durante pelo menos um mês, afastar-me de todos, dos meios de comunicação. mas nunca, ninguém, viveu dentro de si uma vida inteira. é impossível. nós precisamos dos outros. precisamos dos outros para falar com outros e falar sobre a vida desses outros. fuck it, right?
amanhã vou acordar com um conceito diferente. amor. amar. amar não é gostar indefinidamente de uma pessoa. amar é odiar todos os devaneios do outro e, ao mesmo tempo, amá-los. amar é odiar. amar é odiar que tu queiras mostrar ao mundo que és uno, quando eu sei que, na verdade, estás desfeito. é dizeres mil palavrões, eu criticar-te por isso, mas no fundo admirar a forma como os usas. é chatear-te para deixares de fumar, mas vibrar com o jeito dos teus lábios quando dás cada bafo. amar é isto e muito mais. é aquilo que não conseguimos explicar. amar é odiar em simultâneo e mesmo assim querer ficar imóvel. querer compreender as diferenças no modo de sentir e venerá-las como de uma nova religião se tratasse.
hoje acordei com uma vontade infinita. um desejo infinito por ti. quando passo uns dias sem te ver, ando bem. o facto de não te ver, faz com que ignore a tua existência, mas regra geral isto dura pouco tempo. depois há dias como os de hoje. vi-te. ainda por cima, vi-te num lugar aleatório. cai-me tudo. sinto-me perdida. fico sem saber o que fazer. hoje, dei a volta à rotunda, voltei a passar por ti, fiz questão de te ver outra vez. a minha sede de ti é infinita. tudo estremece, sempre. existem à superfície da minha retina receptores especializados que fazem de ti uma criatura superior. eu não te amo, longe disso, mas há algo em ti que promove a minha saciedade. eu quero-te. é uma força maior. não é só magnetismo. é algo químico. sinto uma enorme quantidade de neuro-trasnmissores a serem libertados sempre que te vejo.
hoje vou deitar-me com a certeza de amanhã te ver. mas espero que um dia isto acabe. que sejas uma força independente e ao mesmo tempo parte da minha vida. mas não da forma actual. eu agora uso cheats, sempre que quero, não há desafio. um dia espero não ter certezas de te ter, significa que és algo mais.
voltei a escrever, voltei a ti.

Sem comentários:

Enviar um comentário