talvez
aquele microssegundo
que precede a mudança de estado
de vigília a repouso
seja realmente o momento do dia
mais complexo
e sem nexo.
uma eternidade conceptual
anti-natural,
em que o corpo exige que descanse
a mente nega
e retribui em forma de transe.
engraçado como são as ideias
que nos controlam
quando desesperamos
precisamente pelo contrário.
ai, mas que tesão,
aquele assalto
no decorrer da madrugada
em que estamos completamente alheios
a algo que não podemos afirmar ser
inteiramente nosso.
a desconstrução do nosso eu social,
filtrado, trabalhado e aceitável,
para a ressurreição,
dormente, demente e recorrente,
do nosso eu
cru e nu.
a emoção a destronar,
por fim,
a razão.
é claro, agora,
porque não durmo?
ai, nem me venham com a merda dos químicos,
não outra vez.
há erros que só se cometem uma única vez.
como poderia desejar
umas ordinárias horas de sono e normalidade,
que me matam a fertilidade,
ao invés de
noites de insanidade e até um quê de excentricidade
quando são elas
unicamente
que me dão uma remota saciedade.
Sem comentários:
Enviar um comentário