24 de março de 2017

se à superfície
de uma qualquer beira mar
ao por do sol
eu me atrevesse a contar
tudo aquilo que sei
sobre ti
talvez não voltasses
a olhar-me com os mesmos olhos
talvez sofresses comigo
a fragilidade dos egos
e a inevitabilidade dos segredos.

por isso,
me calo,
cerro a boca para que as palavras não me fujam,
comprimo o meu nariz,
para que nem a minha respiração me traia
e revele tudo o que fica por dizer.
o cansaço e as caibras
levam-me a procurar uma solução mais definitiva.
rumo ao mar, gélido e insidioso,
passo a passo eu caminho,
até que mergulho,
não resisto,
facilmente desisto.
abandono-me às marés,
afundo-me até onde a luz
já não atravessa.
objectivo atingido - hipóxia, dormência,
plena inconsciência.

até que a tua voz se move por entre as partículas de água
ressoa nos meus tímpanos
e num instante
gasto o resto das minhas energias
no regresso à superfície,
os meus pulmões enchem-se de novo de ar.

e, no entanto,
há muito que os sonhos
começaram a degenerar.

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