24 de março de 2017


dás cabo de mim,
mas não sabes,
talvez nunca venhas a saber.
não preciso que saibas
e é aí…

desde cedo
construo castelos sobre a neve,
nos momentos,
em que faz tanto frio
que até me esqueço
que a primavera vai voltar.
com ela
chega o calor,
em mim, o frio insiste e persiste,
mas a neve derrete
e o castelo se desmonta.

castelo esse
que com as minhas mãos imaginei,
com as minhas lágrimas desenhei,
sem ponte para entrar,
só muralhas a vedar.
porque, no fundo,
eu sei,
que nem todas as construções
são visitadas
e bem,
as minhas motivações
assentam sobretudo em questões
ainda nem sequer pensadas.

dás cabo de mim,
e eu sei,
mas não sei
por quanto tempo mais.
e é aí…

acto contínuo.
traço mapas sobre a areia,
nos momentos,
em que o mar está tão inerte
que até me esqueço
que cedo virá uma onda rebentar,
em mim, a inércia insiste e persiste,
mas a areia dilui-se na espuma
e com ela a minha sorte.

mapas esses
que com os meus pés caminhei,
que com os meus medos retracei,
sem possibilidade de desvendar
qual o rumo que devo tomar.
porque, no fundo,
eu sei,
que já todas as rotas
foram percorridas
e bem,
de tanto tomar notas
ainda nem sequer descobri
em qual das encruzilhadas me perdi.

dás cabo de mim,
e tu sabes,
e eu sei que tu sabes.
sabemos nas entre linhas,
fingimos nas entre linhas,
e eu escondo-me em ti,
sem que tu te escondas em mim.
e ainda assim…

continuarei.
construo sonhos sob as nuvens,
nos momentos em que o sol nasce,
nos momentos em que anoitece,
que até me esqueço
que também as tempestades nos assaltam,
em mim, a esperança insiste e persiste,
mas as nuvens escurecem,
e os sonhos desvanecem.

sonhos esses
que me invadem, num total descontrolo,
que me arrancam da realidade,
sem possibilidade de os vivenciar,
só janelas para observar.
porque, no fundo,
eu sei,
que nem todos os sonhos
são vividos,
mas antes sofridos,
num medo constante
que alterna
entre
não dormir
e em olhos por abrir.

dás cabo de mim,
quero acreditar que não sabes,
finjo que não sei.
e é assim,
que no entretanto
escondo tudo o que sinto
mas que jamais viverei.

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