5 de abril de 2021



desde que te conheço, nunca fumaste tantos cigarros como agora - dois mil e vinte - e acendes mais um. todas as noites, junto com a falta de luz, ouves o estertor à cabeceira e receias que ele se aproxime demais - as mãos tremem-te. começa dentro de ti uma espécie de luto antecipado pelas incertezas de tudo aquilo que está por vir.

validam-se as dúvidas e serem naturais os pensamentos de que o estado atual é reversível/ irreversível - que difícil distinção.
um a um percorres todos os fatores que te levam ao delirium e questionas, afinal, o que te poderá devolver a integridade do sensorium.
apelas às profundas e inigualáveis ligações como forma de obteres respostas às questões que vão surgindo, dia a dia. mas as insónias não te largam e a incoerência é já um domínio mais que perfeito. resguardas-te num silêncio tão só, tão ileso, mas ele está de volta e ecoa nos teus ouvidos - o ruído à cabeceira.

respiras fundo, eu respiro fundo. eu não sei tanto sobre tanta coisa e já faz tanto tempo que adormecemos nesta apatia - mostra-me as palavras e os sinais de que estamos em paz, acende mais um cigarro e a seguir incendeia tudo - que as labaredas nos guiem e iluminem este inóspito caminho.

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