12 de abril de 2012




encosto-me para trás, o chão está frio. na janela escorre água e o céu está cinzento escuro. concentro-me no canto do tecto e confirmo: estou a sonhar. há semanas que mal durmo mas, ao mesmo tempo, sinto-me constantemente a viajar, em transe. fecho os olhos. revejo a sucessão de imagens recorrente: numa pequena fracção de segundo, o teu corpo está já sobre o meu. sinto o teu cheiro, mais intenso do que nunca, e eu nada faço por resistir. as minhas mãos levantam-se e tocam a tua cara, como pedaços de metal dotados de magnetismo. estamos os dois, completamente sozinhos, mergulhados numa escuridão devastadora e, no entanto, reconheço que já não somos nós, originais, ali. somos desejo-cru, libertos de qualquer preconceito, seres puramente irracionais. num estalar de dedos, por entre os nossos gritos, perfuras-me com um faca no estômago e desvaneces no meio das trevas. os meus nervos concentram-se naquele lugar e, por entre todas as sinapses, esforçam-se por informar o meu cérebro o que sentir. sinto uma intensidade crescente, mas não sei distinguir: dor ou prazer.
por fim, acordo, tenho falta de ar. fecho os olhos e tento acalmar-me. na minha cabeça, flashbacks, repetem-se, vezes e vezes sem conta, sinto a textura da tua pele, a profundidade do teu olhar e o vermelho vivo tinge a minha retina. de alguma forma, esta estranha sensação no meu baixo ventre, tornou-se realidade, sinto-a neste momento. marcaste-me. a verdade é que onde quer que esteja sinto a tua presença, como uma cicatriz, que fica para sempre, para me indicar que és tu a única direcção e eu aceito-a, sem questionar.
reabro os olhos, vejo as partículas que compõem o ar em movimentos precisos e colisões aleatórias: continuo a sonhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário