23 de março de 2016

este mar

durante meses, talvez anos,
naveguei
em terra batida,
solos áridos
onde, hoje sei, nunca poderia
encontrar 
rumo.

entretanto,
compreendi 
onde estava.
o meu lugar.

sempre estive à beira-mar
e,
apesar de sentir 
a ondulação interior,
nunca ousei olhar o mar,
da forma como este deve ser olhado.
com tacto, gentilmente,
desfazendo os nós,
construidos pelo tempo,
pelas vivências,
pela experiência,
pela vida.

por fim, 
comecei 
a ouvir,
a movimentação das correntes,
a cheirar,
a inconfundível maresia,
a tocar,
a água gélida e 
a senti-la nos meus ossos.

hoje, posso afirmar:
encontrei mar,
as suas ondas rebentam em mim,
incessantemente.
nenhum astrolábio, nenhuma rosa do ventos, 
me ensinará, qual o rumo,
ou por que rotas deverei navegar.
tenho em mim
toda a vontade de explorar,
só o tempo e a sensibilidade
me irão guiar.

onde quer que esteja, 
sinto a intensidade das ondas,
sejam as mãos molhadas nos meus lábios,
seja o som do piano atrás do meu ouvido a ressoar,
ou as nuvens em volta da lua a pairar.
eu não consigo parar.

por entre marés cheias e vazias,
tempestades e trovoadas,
irei continuar.
porque, bem sei,
este mar,
não foi feito,
para eu me afogar.

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