já nada me espanta.
tenho um nó na garganta
e o silêncio sentou-se à mesa,
sentou-se no meio de nós,
e, agora, a minha voz
já não reza.
perdi todas as crenças
com excepção das sentenças
reservadas para um final
mais-que-incondicional.
perdi as contas às vezes que amei
às promessas que quebrei
às palavras que nunca te direi
aos caminhos que descruzei.
ardor amor dor
dor ardor amor
amor dor ardor
sentimentos prensados,
condensados num interior
condenado nas profundezas
de um corpo sem calor
repleto de incertezas.
e, ainda assim,
se o meu olhar gravasse
aquilo que sinto
e um dia, eu to emprestasse
perceberias que nunca te minto.
é mau disfarce
para uma deficiente catarse.
se um dia me deixares,
eu ensino-te a ser feliz,
mas por enquanto
eu estou aqui
e tu aí
e continuamos neste compasso
a caminho de um abismo
que eu nunca quis.
sejam bem vindos ao esplendor da ironia:
não existe sofrimento em demasia
se dele resultar
poesia.
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